Artigo Publicado em: 10 de Setembro de 2017 e Atualizado em: 11 de abril de 2025
Depois de passada a fase aguda do AVC (onde buscamos limitar os danos), passamos para um tratamento profilático para evitarmos novos eventos e também o tratamento das sequelas. E a Neuromodulação Pós-AVC tem um papel fundamental neste momento de Reabilitação.
Continue a leitura e conheça melhor como esta técnica favorece o tratamento.
Durante a recuperação do AVC, o cérebro está se reorganizando em um processo conhecido como plasticidade. Alguns tecidos cerebrais danificados podem se recuperar ou outras áreas não danificadas podem ser recicladas para assumir algumas funções. A aplicação de neuroestimulação enquanto o paciente passa por fisioterapia ou terapia da fala pode aumentar a plasticidade e facilitar a recuperação.
A atuação da neuromodulação é útil no sentido de tratar o desequilíbrio entre os hemisférios cerebrais e facilitar a plasticidade neuronal, com a reabilitação. Formas de neuromodulação nas sequelas do AVC incluem:
Uma bobina é posicionada sobre a cabeça, normalmente enquanto o paciente está sentado em uma poltrona. Pulsos de estimulação magnética são aplicados à cabeça em repouso ou durante a execução de uma tarefa. Estes pulsos podem ser aplicados no lado do cérebro que foi afetado pelo AVC, no lado oposto ou nos dois lados.
Essa técnica de neuroestimulação não invasiva tem sido aplicada usando vários protocolos diferentes, com o objetivo de alterar a excitabilidade corticomotora em direção à recuperação do AVC.
Nos casos de espasticidade, após se esgotarem as medidas menos invasivas, há a possibilidade dos implantes de bomba de infusão de baclofeno. Alguns pacientes não toleram o aumento da dose da medicação por via oral e outras medidas, como a injeção de toxina botulínica, já não apresentam mais benefícios.
O baclofeno, quando injetado diretamente no espaço intratecal (na coluna), precisa de uma dose bem menor para sua ação, resultando assim em menos efeito colateral e maior tolerância ao aumento da dose.
Um procedimento cirúrgico para implantar um dispositivo que estimule a superfície do cérebro, logo abaixo do crânio ou dentro do cérebro, para influenciar a função dos circuitos neurais que afetam a condição.
Alguns dias a semanas após a cirurgia inicial, um gerador de pulso implantável para o dispositivo é inserido na parede torácica e um fio subcutâneo é utilizado para alimentar o eletrodo. Finalmente, o eletrodo é ativado e a intensidade da estimulação é ajustada para eficácia clínica.
O DBS é atualmente aprovado pela FDA para doença de Parkinson, tremor essencial, distonia, epilepsia e transtorno obsessivo-compulsivo. Até o momento, o uso para AVC foi off-label. No entanto, tem havido interesse substancial em expandir as aplicações de DBS para AVC, particularmente recuperação motora relacionada ao AVC.
A estimulação do nervo vago (ENV) é um procedimento neurocirúrgico no qual contatos metálicos são implantados ao longo do segmento proximal do vago para fornecer estimulação elétrica ao nervo. O mecanismo de ação da ENV para recuperação motora pós-AVC foi atribuído à ativação das vias neuronais: núcleo basal e locus coeruleus com a liberação de acetilcolina, que desempenha papéis na consolidação da memória e no comportamento direcionado a objetivos.
Três ensaios clínicos demonstraram a segurança, viabilidade e eficácia dessa intervenção e estabeleceram a base para a aprovação pela FDA em 2021, que agora está disponível comercialmente.
O mais observado pelo paciente e sua família, justamente por ser o mais visível, são as alterações motoras. Contudo, esses pacientes também apresentam alterações sensitivas. Entre 40 e 50% dos pacientes vítimas de AVC têm dor, mas geralmente este sintoma não é observado, tanto por profissionais de saúde, quanto pelos cuidadores.
Tanto as sequelas motoras, quanto as sensitivas possuem tratamento. A base deste é a reabilitação, que atua no sentido de reduzir ambos os problemas. A reabilitação do AVC consiste principalmente em terapias físicas, fonoaudiológicas e ocupacionais.
Inicialmente, optamos pelos medicamentos, antes de buscar terapêuticas mais invasivas, como as infiltrações e, por fim, os tratamentos neuromodulatórios. Infelizmente, muitos pacientes se recuperam apenas parcialmente de um AVC, mesmo com as melhores estratégias terapêuticas atuais.
Portanto, há uma grande necessidade de novas intervenções para ajudar os pacientes a se recuperarem do AVC. Várias linhas promissoras de pesquisa podem levar a uma terapia de neuromodulação para auxiliar na reabilitação do AVC.
Neuromodular consiste em modificar um equilíbrio presente no corpo. Um bom exemplo são os casos da modulação em dor, onde o corpo tenta manter um equilíbrio entre estímulos inibitórios e excitatórios de dor. A modulação atua, dependendo de como a utilizamos, desviando a balança para um dos lados.
A estimulação transcraniana (sem cirurgia) ou por implante de eletrodo (com cirurgia), pode proporcionar os seguintes efeitos:
Nos casos de dor central pós-AVC, que ocorre entre 8 a 25% dos casos, o tratamento neuromodulatório é possível. Nesses pacientes, costuma ocorrer uma lesão de áreas de sensibilidade do encéfalo. Por este motivo, eles passam a apresentar um desequilíbrio entre inibição e excitabilidade da dor.
Chamamos este quadro de desaferentação, onde a área que está com a sensibilidade alterada (normalmente metade do corpo), paradoxalmente passa a apresentar uma dor, normalmente em queimação e aperto, que também pode ser em choque, com formigamento, dormência e sensibilidade ao toque.
Já os sintomas motores nesses pacientes são a perda de força e a espasticidade (enrijecimento). Esses sintomas ocorrem por lesão das vias sensitivas encefálicas. Além da lesão direta da via, como se fosse danificado um cabo de energia, há uma competição entre os hemisférios cerebrais: quando um lado está afetado, o outro lado o bloqueia ainda mais.
A atuação da neuromodulação é útil neste sentido: tratar o desequilíbrio entre os hemisférios cerebrais e facilitar a plasticidade neuronal, com a reabilitação.
O princípio de atuação na dor é aumentar a função de vias que atuam no bloqueio da dor. Já sua atuação na motricidade (perda de força e espasticidade) ocorre por inibição do lado saudável e estímulo ao lado doente, para que o lado saudável deixe de bloquear o lado doente e esse possa desenvolver melhor as funções residuais que ainda possua.
A estimulação Transcraniana possui um Efeito Temporário, tendo que ser repetida com uma frequência, a depender da resposta (mensal, semanal ou diária). Para os casos de dor responsivos à estimulação transcraniana, pode ser realizado o implante de eletrodo de estimulação cortical, via cirurgia, com 80% de melhora. Com isso, a estimulação atua de forma constante, não tendo o paciente que realizar seguidas sessões, por tempo prolongado.
Mesmo com essas modalidades de neuromodulação disponíveis, o tratamento base das complicações pós-AVC é a reabilitação. Esses são tratamentos adjuvantes (complementares), que tentam tornar mais produtivas e confortáveis as sessões de reabilitação.
Artigo Publicado em: 10 de Setembro de 2017 e Atualizado em: 11 de abril de 2025
Última data de revisão: s�bado, 17 de maio de 2025