Efeitos da Epilepsia no Cérebro. A epilepsia caracteriza-se por um conjunto de desordens neurológicas, cuja semelhança é a alteração temporária e reversível no funcionamento cerebral, sem causa aparente.
Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esta região ou espalhar-se pelo restante do órgão.
Esses sinais são responsáveis pelas crises epilépticas, que variam desde distorções de percepção e movimentos descontrolados até crises convulsivas e perda de consciência.
Neste artigo, conheça os efeitos da epilepsia no cérebro e como ela afeta as principais regiões cerebrais.
A associação entre epilepsia e um risco aumentado de déficit cognitivo é reconhecida há muito tempo e faz parte da definição de alguns tipos de epilepsias. Alterações sutis na função cerebral foram detectadas em pacientes com formas geralmente consideradas benignas de epilepsia, como a epilepsia infantil com picos centrotemporais.
A questão de saber se algumas ou todas as epilepsias em efeito são doenças cerebrais progressivas, no entanto, é um problema mais complexo e preocupante tanto para os pacientes, que perguntam ansiosamente: “Minhas convulsões causarão dano cerebral?” e a médicos veteranos, que observaram declínio cognitivo a longo prazo em alguns de seus pacientes com crises intratáveis e frequentes.
A frequência e a intensidade das crises epilépticas variam de acordo com a especificidade de cada paciente, com a região do cérebro afetada e outros fatores ainda desconhecidos.
A resposta ao tratamento medicamentoso também varia de caso para caso; cerca de um terço dos pacientes epilépticos não reagem bem aos medicamentos antiepilépticos, e consequentemente tornam-se mais vulneráveis a desenvolver alterações cognitivas e comportamentais, ao longo do tempo.
O avanço das técnicas de neuroimagem têm possibilitado a investigação de alterações anatômicas no cérebro de pacientes epilépticos que antes passavam despercebidas.
Pesquisas com pacientes epilépticos, através da técnica de neuroimagem, investigaram se há presença de traços comuns em todos os tipos de epilepsia. E apesar da identificação de atrofias em áreas do córtex sensitivo motor e em regiões do lobo frontal em diversos pacientes com epilepsia, sabe-se que uma doença não é o espelho da outra.
Quando o hemisfério esquerdo do cérebro é acometido, no entanto, a manifestação é mais intensa e difusa em relação ao hemisfério direito.
Antigamente, acreditava-se que essa diferença de intensidade existia devido à dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem. Entretanto, este não é o único fator responsável: o hemisfério esquerdo apresenta de fato uma vulnerabilidade maior que o direito.
Os pacientes com mais tempo de epilepsia apresentam maior área do cérebro comprometida, o que demonstra que a doença provoca um aumento gradativo de atrofias e prejuízos cognitivos, conforme progride.
A epilepsia do tipo de lobo temporal trata-se de uma forma focal da doença (que atinge uma área específica do cérebro) e que, quando acomete o hemisfério esquerdo do cérebro, provoca um quadro mais grave do que quando acomete o direito. São doenças distintas.
Nas profundezas do lobo temporal, está o hipocampo, responsável por receber novas informações e armazená-las. No entanto, apenas armazena informações por um curto período de tempo. Então, se a informação parecer importante, ela será enviada para uma seção diferente do cérebro para armazenamento a longo prazo. Quando as informações são necessárias novamente, o hipocampo ajuda a recuperá-las.
A amígdala também é muito importante para a memória. Essa estrutura é responsável por emoções básicas, como medo, raiva e atração sexual. Quando uma pessoa, lugar ou coisa causa uma reação emocional, a amígdala anexa a emoção à memória.
As convulsões, especialmente as que se iniciam no lobo temporal, podem causar um grande golpe no hipocampo. O hipocampo é muito sensível a mudanças na atividade cerebral. Se as crises iniciadas aqui não forem tratadas, o hipocampo começa a endurecer e encolher. As informações podem ser armazenadas, mas de maneira desorganizada.
A maior parte do nosso cérebro é a que lida com a função executiva: o lobo frontal. Quando você faz uma lista, planeja uma rota de direção ou organiza seus pensamentos, isso se deve ao lobo frontal. O lobo frontal tem um papel importante na tomada de decisão e tem a palavra final em seu comportamento social, regulando como você interage com outras pessoas. Algumas pessoas afirmam que é daí que vem a sua personalidade.
As convulsões que ocorrem no lobo frontal podem tornar sua capacidade de planejamento mais fraca. Talvez você não consiga organizar seus pensamentos ou ações da melhor maneira. Se você está fazendo uma lista de compras, por exemplo, pode pensar ou escrever o mesmo item repetidamente.
Pode ser mais difícil para você interagir com as pessoas. Sua atenção pode desviar mais do que antes. Algumas pessoas dizem que sua personalidade mudou depois de sofrer convulsões por muitos anos. Também pode ser mais difícil para você interromper comportamentos indesejados. Você pode dizer o que está pensando, mesmo quando não é a hora certa.
Mesmo convulsões parciais complexas frequentes já foram associadas a piora dos escores em testes de aprendizado verbal, recordação tardia e fluência semântica, sugerindo efeitos cerebrais específicos do local das convulsões.
É importante considerar que pacientes com epilepsia intratável, convulsões repetidas de qualquer tipo – e não apenas tônico-clônicas ou generalizadas – podem representar um sério risco à qualidade de vida e também podem afetar a função intelectual em longo prazo.
Procurar tratamento adequado para seu tipo de epilepsia e seguir à risca as recomendações do seu médico são passos fundamentais para evitar os efeitos negativos da epilepsia em seu cérebro.
Referência: Seminars in Pediatric Neurology
Artigo Publicado em: 4 de abril de 2018 e Atualizado em: 16 de maio de 2020
Última data de revisão: s�bado, 14 de dezembro de 2024