A dor neuropática central é uma condição neurológica causada por danos ao sistema nervoso central que provocam sintomas de dor. Esse tipo de dor neuropática é uma das síndromes dolorosas mais complexas e de difícil tratamento.
A síndrome da dor central, como também é chamada, pode potencialmente perturbar a rotina diária de um indivíduo. Em casos graves, a dor pode ser angustiante e implacável, e afetar drasticamente a qualidade de vida de uma pessoa.
Ao longo deste artigo, vamos explicar, em mais detalhes, sobre suas possíveis causas, sintomas e abordagens terapêuticas.
A dor neuropática não é gerada em resposta protetora a um estímulo prejudicial. Na realidade, nenhum estímulo nocivo causa esse tipo de dor. Em vez disso, trata-se de uma disfunção no cérebro, devido às lesões a qualquer estrutura do sistema nervoso que criam a percepção da dor.
Dessa forma, a dor neuropática central decorre de danos a qualquer uma das estruturas do cérebro, do tronco cerebral ou da medula espinhal.
A condição pode começar imediatamente após o evento que causou a lesão ou levar meses ou anos para se desenvolver. A dor também pode ser geral ou localizada, variando, entre os pacientes, de acordo com a causa e com a extensão dos danos nervosos.
A síndrome da dor central pode ser dividida em dor central de origem no cérebro ou no tronco cerebral, ou dor central de origem na medula espinhal.
A dor central foi descrita pela primeira vez em 1891, pelo neurologista alemão L. Edinger. Durante anos, acreditou-se que a maioria dos casos de síndrome da dor central se devia a danos no tálamo, na maioria das vezes, causados por AVC.
Mais tarde, o distúrbio passou a ser denominado síndrome de Dejerine-Roussy, em homenagem a dois neurologistas franceses que descreveram a chamada síndrome talâmica (1906), que incluía um componente de dor. Posteriormente, e até recentemente, a dor central tornou-se sinônimo de síndrome da dor talâmica.
No entanto, os pesquisadores agora sabem que danos às vias de condução da dor em qualquer lugar ao longo do eixo neural, da medula espinhal ao córtex sensorial, podem causar a síndrome da dor central.
Consequentemente, o nome atual deste grupo de distúrbios é síndrome da dor central, para reconhecer que danos em várias áreas do SNC (e não predominantemente no tálamo) podem causar dor central, e que um AVC não é, necessariamente, a causa primária.
A manifestação da dor neuropática central, geralmente, é constante (mas pode ser intermitente) e pode ser leve, moderada ou intensa. Os indivíduos afetados podem se tornar hipersensíveis a estímulos dolorosos.
O tipo específico de experiência dolorosa pode variar de um indivíduo para outro, com base, em parte, na causa subjacente do distúrbio e na área afetada do sistema nervoso central.
Os sintomas variam entre:
Estes sintomas podem apresentar-se com intensidade de moderada a grave. Algumas pessoas relatam sentir dor mesmo com o leve toque de roupas, de cobertores ou do vento.
Entre os fatores que pioram a dor estão:
Diferentemente da dor neuropática periférica, em que o dano ocorre em nervos periféricos, que estão fora do cérebro e da medula espinhal, a dor central ocorre devido às lesões nestas estruturas.
Os danos ao sistema nervoso central podem ocorrer devido à diversas circunstâncias, como:
O tipo mais comum, a dor central pós-AVC, pode afetar os pacientes imediatamente após um evento de AVC, embora mais frequentemente se manifeste semanas, meses, ou mesmo, anos depois.
Quando a dor é uma característica de apresentação da esclerose múltipla (EM), as chances de dor crônica e central no futuro aumentam.
Pacientes com lesão da medula espinhal experimentam o atraso mais longo no desenvolvimento de dor central: dentro de 3 meses, em quase metade dos pacientes, embora possa apresentar até 5 anos após a lesão.
A síndrome da dor central pode ser difícil de diagnosticar, já que seus sintomas, geralmente, parecem não estar relacionados à qualquer lesão ou trauma. Além disso, nenhum exame único e específico consegue fechar o diagnóstico.
O exame clínico é fundamental, no qual o médico avalia os sintomas, realiza um exame físico e conhece o histórico do paciente. Nesse momento, é muito importante que o médico saiba sobre quaisquer condições ou lesões que tenha apresentado, e os medicamentos que está tomando.
O aspecto mais desafiador neste diagnóstico está nos pacientes com comprometimento neurológico. Nesses casos, existe a necessidade de realizar um diagnóstico diferencial em relação às dores de origem musculoesquelética, ou mesmo, com neuropatias periféricas, já que os sintomas de queimação, frio doloroso, formigamento ou pontadas, são parecidos nessas condições.
Assim, a diferenciação entre dor neuropática de origem periférica e central se dá por meio da análise de dados da história clínica, juntamente com os resultados do exame físico e de exames complementares, como eletroneuromiografia e ressonância magnética.
Como a síndrome da dor central é uma condição em que o completo controle da dor é improvável, utilizamos o termo gestão da dor. Dessa forma, o médico especialista em dor elabora uma estratégia multidisciplinar que integra abordagens farmacológicas associadas a terapias não farmacológicas.
O objetivo, portanto, é proporcionar uma melhora na qualidade de vida do paciente, que alcança um certo ganho funcional.
Nesses casos, os analgésicos simples, como paracetamol, ibuprofeno ou aspirina, até fornecem algum grau de alívio da dor. Entretanto, não são capazes de aliviar completamente e de forma duradoura. Medicamentos mais fortes, como a morfina, também não são indicados.
Os antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina, podem ajudar a regular a dor central. Além disso, medicamentos da classe dos anticonvulsivantes, como a gabapentina, também oferecem benefícios.
Técnicas não farmacológicas incluem a realização de fisioterapia e alterações do estilo de vida para reduzir os níveis de estresse. O acompanhamento de um psicólogo também ajuda o paciente a encontrar estratégias para lidar com a dor.
Os procedimentos cirúrgicos da dor central são indicados para aqueles pacientes que continuam apresentando dores mesmo após o tratamento conservador ou com farmacoterapia, ou naqueles em que os efeitos adversos inviabilizam sua utilização.
Entre as abordagens cirúrgicas estão a estimulação cerebral profunda, a infusão de fármacos analgésicos por meio de sistemas implantáveis, e os procedimentos ablativos.
Estes procedimentos possuem o objetivo de interromper as vias da dor, seja por lesão seletiva, por estímulo ou por inibição das funções de estruturas, como os nervos periféricos, as raízes, os cordões medulares e as vias ascendentes, que atuam na modulação dos componentes cognitivos e emocionais associados a dor e causam sofrimento ao indivíduo.
Com tantos desafios em torno da abordagem da dor neuropática central, é muito importante que um médico especialista em dor realize o diagnóstico e a indicação de um tratamento cirúrgico para este paciente. Se você vem sofrendo com esta condição, marque uma consulta e deixe-nos ajudar em seu caso.
Referência: Critical reviews in physical and rehabilitation medicine
Artigo Publicado em: 6 de setembro de 2018 e Atualizado em 25 de setembro de 2020
Última data de revisão: quinta, 12 de dezembro de 2024